Reflexões sobre os novos rumos da Gestão de Mudança

*Katia Soares

Cada vez mais, a Gestão de Mudança está se tornando um encontro de lideranças que, de alguma forma, buscam compreender como a gestão de expectativas, o estabelecimento de acordos claros e o nivelamento de capacidades poderão auxiliar a jornada de desafios em que o líder se encontra mergulhado no cenário atual.

Durante a minha participação no painel “Soluções inovadoras para atuar com Gestão de Mudança num mercado em recessão” do I Encontro ACMP Brasil, que aconteceu no dia 3 de dezembro em São Paulo, pude perceber uma situação diferenciada, nova e motivadora. Pela primeira vez, empresas parceiras, clientes, consultorias e concorrentes estavam em um único local compartilhando e ouvindo experiências de indivíduos, grupos e organizações sobre como proceder para que a Gestão de Mudança seja feita de forma orgânica e cuidadosa.

Abordagens como governança, papéis bem definidos, importância do patrocínio da alta liderança, gestão de expectativas, prontidão, capacitação dos agentes de mudança para atuação mais comprometida, o tocar de corações e o entendimento de necessidades deram o tom com que cada um dos apresentadores se colocou naquele dia em suas discussões e colaborações.

Para a Agentes da Mudança, o I Encontro ACMP Brasil gerou a certeza de que estamos no caminho certo ao cuidar dos indivíduos a partir de uma abordagem que leva em conta o técnico e o humano juntos. Acredito que, só assim, poderemos estabelecer diálogos francos e focados no bem comum e não no interesse próprio.
Um outro tema bastante abordado foi a importância de se ter propósitos muito bem estabelecidos e alinhados a cada tipo de cultura. Quando uma mudança ocorre, não precisamos necessariamente mudar tudo. Muita coisa precisa ser mantida para que a mudança se sustente.

As perguntas da vez são “Como lidar com a dimensão humana neste mundo de infinitas possibilidades em torno de tecnologia e processos?” e “Como aprender a liderar a partir de um futuro que emerge?” Para isso ocorrer, o nosso desafio será olhar para o ponto cego do lugar interior que estamos ocupando. Precisamos voltar a nos conhecer. O sucesso de uma intervenção depende do interventor e de como ele cuida do seu mundo interior: são esses pilares que sustentam a capacidade de se criar as condições de mudança. Sem eles, estaremos jogando a favor do caos.

É fato que os líderes precisam entregar resultados, mas o mais importante para atingir essa meta será iniciar a jornada sendo eles mesmos. Ficou evidente nas discussões fomentadas durante o I Encontro ACMP Brasil que, por mais métodos e ferramentas que tenhamos, o momento pede autoconhecimento do interventor da mudança, pede a troca do controle pela colaboração, e da estabilidade pela flexibilidade. Incluir ao invés de excluir.

Olhar para dentro também passa a ser responsabilidade dos fornecedores e clientes para podermos utilizar perfis diferentes para o alcance da estratégia. O diagnóstico tem um valor imenso neste cenário de empresas mais autênticas e mais focadas em pessoas, para que a formação de uma cultura possa ser o reflexo dos comportamentos individuais e coletivos. Precisamos parar e olhar para a biografia dos indivíduos, porque somos vivências e experiências. Valores, modelos mentais e necessidades devem ser levados em conta nesta nova fase da Gestão de Mudança. Entender que é preciso mudar a si mesmo para que o outro mude: esse é o verdadeiro ressignificar do tema mudança dentro das empresas.

* Katia Soares é criadora da Agentes da Mudança, escritora, consultora especializada em Gestão de Mudança Organizacional, Mentoring e Executive Coaching.

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