*Katia Soares Natalicchio
Quando visitamos uma empresa, as primeiras pessoas que nos recebem, como o manobrista, a recepcionista, o ascensorista de elevador ou mesmo o auxiliar de limpeza, nos revelam, de forma simples, inúmeras informações sobre o tipo de cultura que temos ali presente e como a estrutura organizacional realmente funciona. Quem nunca passou por aquela situação em que uma recepcionista lhe pede o RG e nem ao menos olha em seus olhos?
São várias as situações e comportamentos individuais/coletivos que, pouco a pouco, vão nos sinalizando como é aquele “ser vivo” denominado organização. Um ser repleto de histórias, sonhos, aprendizados, desafios e necessidades. E para saber lidar com isso tudo, precisamos compreender a profundidade e o que está por trás do tema mudança. O primeiro passo desta jornada é APRENDER A OLHAR, examinar com cuidado o cenário em que estamos inseridos e isso significa, de imediato, formular perguntas como: “Quem conduz as mudanças aqui?”, “Como as mudanças ocorrem nesta cultura?”, “Que governança existe e que papéis assume para assessorar as ações de mudança no dia a dia?”, “Como o poder de influência ocorre dentro desta estrutura?”, “Como se planejam?”…
Fui convidada a mediar um debate sobre “Diferentes estruturas de Change Management e como elas impactam os resultados dessa gestão” durante o 1º Fórum Brasileiro de Gestão da Mudança, que aconteceu na cidade de São Paulo nos dias 28 e 29 de maio de 2015. Durante o evento, pude perceber e fiquei muito feliz ao ouvir o quanto esse tema ganhou importância e força para o mundo corporativo e, também, o quanto o papel do líder precisa ser direcionado e capacitado para saber atuar como um Agente da Mudança em seu entorno. Atualmente, diferentes áreas como RH, PMO’S, TI, Comunicação e Planejamento Estratégico estão sendo acionadas para colaborar com esse processo em maior ou menor escala.
Tal cenário vem se delineando devido ao aumento da velocidade nas tomadas de decisão, à aceleração no alcance de resultados e à diminuição dos custos e headcounts. Estamos em plena transformação do país, sendo chamados a fazer mais com menos o tempo todo. Dessa forma, é fundamental saber compreender que a mudança é um processo pelo qual todos os colaboradores da organização precisam estar envolvidos.
Trocando experiências com empresas como Elektro, Makro, Embraer, Natura, Mercedes-Benz, Via Varejo, HSBC, Symnetics, entre outras presentes ao 1º Fórum Brasileiro de Gestão de Mudança, ficou claro que os atuais líderes estão tendo que lidar com situações sutis como comportamentos, ética, valores, cultura, conflitos, pressões, necessidades pessoais e atitudes, apesar dos resultados serem acirradamente cobrados.
O que está acontecendo de fato? Estamos todos em processo de mudança, sendo convidados a olhar para dentro (questões psicológicas e humanas) e para fora (questões técnicas) ao mesmo tempo. Isso significa que, para gerenciar mudanças levando em conta a estrutura que temos hoje, é necessário aprender sobre retenção, visão única de cultura, auto-conhecimento, visão holística, diálogo e outras questões que estejam a serviço do lado humano da mudança. Porque a parte técnica, já sabemos como fazer. Mal ou bem, o cronograma, os gráficos, os sistemas tecnológicos, os templates e relatórios ficarão prontos. A novidade é que não existe uma fórmula para saber lidar com o lado humano da mudança. É necessário focar no presente e resgatar nossas lições aprendidas no passado. Construir os fios que tecem as nossas relações com nós mesmos e com as pessoas à nossa volta passou a ser fator crítico para o sucesso da implementação de uma mudança.
Segundo o juiz de Direito e escritor espiritualista José Carlos de Lucca, um sábio que passou pelo meu caminho profissional, “somos o resultado de nossos erros e acertos. Nossos erros, se bem compreendidos, são a indicação segura da direção que devemos seguir. Assim, ao olhar o passado e o presente, honrando carinhosamente as quedas, aprenderemos a caminhar.” Para tanto, os líderes precisam entender seu novo papel de Agente da Mudança e se preparar para exercê-lo.
Diante desse desafio de lidar com a mudança, o Fórum apontou algumas tendências: aumentar a consciência individual e coletiva em relação à sua verdadeira contribuição; ter uma abordagem simples que apoie, passo a passo, a jornada de como conduzir um processo de mudança; discutir iniciativas, projetos e programas de mudança de forma antecipada; estruturar funções corporativas dedicadas à gestão da mudança; realizar capacitações para que toda liderança conheça seu papel e saiba como conduzir o processo (todos precisam estar na mesma página).
Será dessa forma que, muito mais do que uma “estrutura” de gestão de mudança, estaremos criando uma “cultura” de gestão de mudança, em que o engajamento passa a ser a bola da vez e o investimento de tempo em comunicar ganhos e perdas, papeis e responsabilidades será o meio para este engajamento.
Também no 1º Fórum Brasileiro de Gestão de Mudança, dialogamos sobre a importância da mensuração dos resultados qualitativos e quantitativos de todas as ações realizadas sobre mudança dentro da estrutura organizacional. Diante disso, minha recomendação é sempre “exagerar” no empacotamento das ações e resultados, porque o ser humano precisa ver para crer. Um gráfico bem feito, um indicador bem criado e medido é sucesso na certa.
Outra dica é que o líder da mudança não precisa ser necessariamente um líder formal. Segundo pesquisa da ACMP (Association of Change Management Professionals), 80% dos líderes que atuam em gestão de mudança são informais. Assim, fica cada vez mais claro que quem conduz e sustenta a mudança somos todos nós, despertos para uma realidade que prioriza o bem comum em detrimento do interesse próprio.
Redes estão sendo construídas. Ferramentas de acesso global de comunicação lançadas e ampliadas. Funções e cargos revisitados para uma atuação mais holística. Home office incentivado pelas organizações. Os atuais presidentes estão indo à casa dos saberes. Os empresários estão formando as Universidades Corporativas. Esses e outros sinais apenas nos alertam que estamos em plena mudança. E você? O que está fazendo para ajudar a construir e sustentar esta mudança? Vamos juntos? Quem sabe podemos participar da mesma rede?
A sociedade está passando da era do conhecimento para a era das relações. E as organizações precisam estar preparadas para lidar com a mudança cross e não só em caixinha. Precisamos trabalhar a competência organizacional para sensibilizar as pessoas. O segredo é dar foco no nível do sentir, porque já pensamos e já fizemos demais. O desafio agora é o coração.
Anualmente, ministramos um Programa de Formação Líderes Agentes da Mudança. Venha fazer parte da turma 2016 e passe a usufruir dessa poderosa ferramenta para conduzir transições e mudanças organizacionais com sucesso. Clique aqui e faça sua inscrição.
Katia Soares é criadora da Agentes da Mudança, Escritora, Consultora especializada em Gestão de Mudança Organizacional, Mentoring e Executive Coaching.
Deixar Um Comentário
Você precise estar logged in para postar um comentário.