A espiritualidade no mundo da liderança

Liderança baseada na espiritualidade possui seguidores espontâneos que enxergam autoridade, não o poder.

*Katia Soares

Cada vez mais a espiritualidade deixa de ser um tabu e passa a ser um tema presente na vida das lideranças nas organizações.

Ao longo da trajetória de crescimento e desenvolvimento do planeta, a ciência pouco a pouco foi substituindo a fé. O Universo passa a direcionar as suas ações para o mundo material, sendo decodificado pelo método científico e, como conseqüência, muitas vezes se viu a manipulação da realidade.

Se transportarmos esse cenário para dentro das organizações, percebemos que também falamos de um organismo vivo. As empresas precisam contar com a mente, o coração e o espírito de seus colaboradores para sobreviver.

Os métodos Taylor (repetição de atividades baseada em resultados) e Fayol inspiraram Ford a trazer o conceito homem-hora para o desenvolvimento das atividades na organização. Mas esse modelo que pressupõe ordem e progresso, coisas organizadas, calculadas, medidas, não consegue se sustentar por muito tempo.

Para tocar corações, espíritos e mentes dos colaboradores, é preciso que a liderança deixe de lado o desejo de exercer o poder para ser servido e, ao invés disso, passe a servir. Isso ocorre quando os líderes adquirem consciência do seu verdadeiro papel na empresa e na sociedade. A inspiração não chega mais através do desafio e do salário, mas de relações verdadeiras, respeitosas, baseadas em valores comuns.

As empresas de sucesso entenderam que mente e coração caminham juntos. E as que estão à frente estimulam cada vez mais a consciência de que não viemos ao mundo para nos auto-satisfazer, mas para nos colocarmos a serviço das outras pessoas. Isso é estimular a espiritualidade.

Acima do racional e do social, é na dimensão espiritual que aprendemos de fato a conviver com a diversidade, a estimular a liberdade, a esperança, a compaixão, a humildade e o amor genuíno. Significa crer que estamos todos no mundo com um propósito para a realização de algo que transcende o material e dá sentido à vida.

Para o incentivo à dimensão espiritual, a liderança precisa compreender que todos nós vivemos conectados na vida e no trabalho. Para tanto, se faz necessário promover atividades que reconecte os profissionais com seus respectivos papéis e responsabilidades, seja consigo mesmo (autoconhecimento) e com o outro (servidão, compreensão e prestatividade).

Quando estamos atuando na dimensão espiritual, os problemas individuais são substituídos por soluções coletivas, adotando uma postura mais positiva. Todas as questões das áreas nas organizações são trabalhadas de maneira transparente, fortalecendo o sentimento de pertencimento.

As pessoas possuem a necessidade de serem úteis e, portanto, reconhecidas na sua atuação no mundo. Isso significa trocar o falar pelo fazer. Dar exemplo de ação e coragem. Dessa forma, todo este movimento estimula as pessoas a agir com liberdade e responsabilidade.

Uma liderança baseada na espiritualidade possui seguidores espontâneos que enxergam a autoridade e não o poder. Quando o poder é utilizado, as pessoas agem por “obrigação”, quando a autoridade é manifestada, as pessoas agem por “vontade própria”. Esse é o único meio de contar com o coração, a mente e o espírito dos profissionais.

Estamos em uma era em que o papel da liderança significa espontâneamente servir o outro e ajudá-lo a tornar-se o melhor que pode ser.

Cabe ao líder servir, incentivar, reconhecer, parabenizar, apoiar as pessoas no entendimento da importância do seu trabalho na vida e nas organizações. Resgatar talentos soterrados por acúmulo de egos ou mesmo desprezados pela perda da auto-estima torna-se ação prioritária da liderança espiritualizada.

Algumas ações já estão sendo tomadas por líderes que compreenderam a importância e a dimensão do seu papel. Entre elas destacam-se a substituição do ego por uma liderança servidora; ouvir sem julgamentos; admitir abertamente falhas ou limitações; a criação de times baseados em valores comuns, compartilhando e delegando decisões, soluções e questões. E, acima de tudo, valorizando o desenvolvimento das pessoas sem medo de ficar para trás.

Não é uma tarefa fácil, isso é verdade. Mas o líder com enfoque espiritual também já entendeu que este movimento não dá para ser feito sozinho e, por isso, já deu o primeiro passo, que é saber pedir ajuda.

Atualmente estes líderes têm buscado apoio de diversas formas e as mais utilizadas e reconhecidas pelos resultados são o coaching individual, mentoring e o learning group, assim como encontros onde identidades, papéis/responsabilidades e visão de processos são co-construídos de maneira coletiva.

Afinal, estamos numa era em que as pessoas compram pela motivação que existe na alma e no coração. Reconhecimento e respeito passam a ser as palavras do momento. O preço é avaliado pelo valor que o cliente percebe do seu serviço internamente, na alma, porque o foco é do cliente e não no cliente.

Cada vez mais a direção está em trabalhar na percepção, lealdade e confiança nas pessoas e nos valores da empresa. Isso significa capacitar as pessoas para a mudança. Transformar a competência e o planejamento em temas ativos na empresa, onde todos estejam engajados.

As ferramentas continuarão a existir. A modernidade continuará avançando na tecnologia, nas informações e inovações, mas o diferencial para sustentar esse avanço será através do desafio de conscientizarmos cada vez mais a liderança para atuar com enfoque espiritual. Do contrário, estaremos incentivando o homem-hora ao invés do homem-espírito.

 

Katia Soares é a Criadora da Agentes da Mudança, Consultora especializada em Gestão de Mudança, Mentoring  e Executive Coaching.

Por |2017-10-30T11:56:47-02:0021 de novembro de 2016|0 Comentários

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